As desconstruções que o trabalho do SUAS nos impõe
O trabalho no SUAS muda nossa concepção de mundo. Lidamos com situações que grande parte da população nem sabe que existe. Ao lidar com o acidentado terreno das questões familiares nos deparamos com surpresas que quebram antigos paradigmas e criam novas percepções de mundo. O próprio conceito de família muda, de forma que temos que tomar cuidado para não nos tornarmos pessimistas ao acessar a violência de muitas situações.
Um fato que marcou muito a minha trajetória profissional foi quando comecei a trabalhar com pessoas em situação de rua. Ainda era muito cru, naquele estágio em que buscamos a técnica, mas ainda somos muito influenciados pelo senso comum e moralismo (com o tempo isso avança, mas nunca deixará de ser alvo constante de nossa vigilância).
Ao ver um idoso em situação de rua me veio o óbvio questionamento da ausência da família. Porém, adotei uma postura inicial de culpabilizar essa família, sendo influenciado pelo discurso do idoso. Acho que os traços parecidos com meu pai embaralharam ainda mais a análise, porque somos humanos e na nossa vida pessoal pode interferir em nossa atuação.
Com a aproximação e o melhor conhecimento do passado dessas relações familiares, descobri que o idoso à época frágil e de discurso abandonado, ao longo da vida violentou a família de todas as formas antes de sofrer esse "abandono".
Essa experiência mudou muito a minha abordagem profissional e concepção de vida. A principal lição? Não julgar o livro pela capa. Não se apressar para dar vereditos e tomar posição frente à situações complexas. Essa própria situação depois revelou tantas camadas de complexidade, inclusive da reprodução desse idoso de uma criação a que ele tinha aprendido.
E você, já parou para pensar em quais preconceitos quebrou após começar a trabalhar no SUAS?
